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HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo 

Maria Augusta de Sant’Ana Moraes* 

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Os anos 30 e 40 desenharam o perfil emergente da modernidade no Brasil, impondo-se esforços à sua interiorização. Criou-se o Ministério da Saúde e Educação (1933), de início, com passos lentos, para no último lustro da década de quarenta desmembrar-se em dois ministérios de políticas agressivas para um Brasil doente e inculto. Estruturaram-se as Sociedades para o Progresso da Ciência e de Pesquisa Física. Campanhas nacionais de combate à lepra, à tuberculose, à malária, com realce à medicina preventiva, tornaram-se bandeiras dos sanitaristas brasileiros com respaldo governamental, e paralelamente, nasciam faculdades isoladas no "interland" brasileiro sob a égide estatal e/ou religiosa. 

Em São Paulo, 1948, votou-se lei contemplando várias cidades paulistas com diferentes cursos superiores. À sociedade de Ribeirão Preto, que reclamava sediar uma Universidade do Interior, destinou-se uma Faculdade de Medicina, aceita de bom grado na certeza de vir a ser a "célula mater" daquele ideal". O encaminhamento da execução da lei mostrou-se inviável, passando pela emenda da subordinação da futura escola à USP, que por zelo à qualidade do ensino médico era, manifestamente contrária. Não obstante, o então Reitor Ernesto Leme recebeu do Governador do Estado sua decisão política:"... instalação imediata..." da Faculdade de Medicina em Ribeirão Preto. Foi o "cumpra-se a lei" de nº 161 de 1948, que levou a Comissão de Ensino e Regimento ( FM-USP ) a emitir parecer favorável, escudando-se no "...fato da Faculdade de Medicina de São Paulo dispor de 138 livre-docentes..." dispostos a integrar o corpo acadêmico da futura escola médica. 

O embrião da estrutura didático-filosófica da FMRP estribou-se no conjunto de proposições elaborado pelo Congresso Pan-Americano de Educação Médica, realizado em Lima, no ano de 1951: 1) sistematização da educação médica: a) curso normal de ciências médicas, b) curso de pós-graduação; 2) tendência para medicina preventiva; 3) alicerçar-se na clínica médica; 4) ministrar cursos normais para as disciplinas essenciais; 5) adotar sistema departamental: fusão das cátedras de clínica médica em Departamento de Clínica Médica e as de clínica cirúrgica em Departamento de Cirurgia e suas respectivas interações com laboratórios de patologia; 6) número de matrículas limitado, ou seja proporcional à capacidade didática; 7) obrigatoriedade do internato; 8) seleção de alunos com critérios científico, moral e psicológico. 

A estas recomendações somavam-se, ainda, a adoção do tempo integral para as disciplinas básicas e clínicas, criação de uma Escola de Enfermagem e a construção de um Hospital Escola. Consta que a afirmação destas linhas mestras satisfaziam às exigências da Fundação Rockeffeler para futuro apoio financeiro a Faculdade de Medicina e que estes entendimentos não teriam vindo a público pelo nacionalismo exarcebado do Brasil de então. Certo é que estes financiamentos vieram logo após sua criação e muito ofereceram à FMRP em termos de aprimoramento de professores, estruturação de departamentos, equipamentos de laboratórios e serviços da Faculdade e do Hospital das Clínicas. Corrobora a veracidade daquelas exigências o fato de que os mentores da estrutura didática desta Faculdade preocuparam-se no relacionamento Universidade-indústria, não próprio ao pensamento de um Brasil agrário. Veja-se "o que a Indústria espera da Universidade" é tema presente no processo de sua criação. 

No ir e vir do ano de 1951, em meio a um emaranhado de ações e entendimentos políticos, em dezembro, a F.M.R.P. ganhou o seu segundo encaminhamento jurídico - autorização de funcionamento. 

Releve-se que implantar "numa terra de chão" uma Faculdade de Medicina com propósitos inovadores - ensino, pesquisa e prestação de serviços - linhas mestras que até hoje a norteiam, não foi tarefa fácil. De seu funcionamento no porão da Rua Visconde de Inhaúma sobrelevam as dificuldades, o idealismo e a certeza de desenvolver a investigação científica, antes patrimônio de alguns poucos Institutos entre os quais, Manguinhos, Butantã e Biológico. 

Ao seu primeiro Diretor - Zeferino Vaz (1952-64), homem de pensamento grande, deve-se creditar ações que contribuiram para o êxito da nova Faculdade de Medicina. Era ele fruto dos frutos da escola Oswaldiana de Manguinhos, pois tivera em Rocha Lima e Arthur Neiva a formação do espírito pesquisador e no Instituto Biológico de São Paulo vivenciara a atividade de pesquisa. Para imprimir à nova F.M. mecanismos da ciência e da pesquisa buscou colaboradores europeus, argentinos e nacionais já expressivos. Os primeiros dispostos à imigração pelas consequências do pós-guerra europeu e pela arbitrária política peronista. São exemplos Lucien Lison, um dos pioneiros da histoquímica, Fritz Köberle, responsável pela teoria neurogênica da fase crônica da Doença de Chagas, Miguel R. Covian, discípulo direto de Bernardo Houssay ( Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1947) e um dos pioneiros da Neurofisiologia na América Latina. Dos nacionais, destacaram-se os primeiros entre os primeiros - Pedreira de Freitas, que desde 1941 estudava Chagas nos aspectos clínicos, epidemiológicos e profiláticos, e Maurício Rocha e Silva, um dos descobridores da bradicinina, e "a maior expressão da farmacologia brasileira de todos os tempos", e isto sem falar em outros cientistas que deixaram sua contribuição sem aqui permanecerem como Samuel Pessoa. 

Mérito igual ou maior teve Zeferino Vaz, ao escolher, pelo potencial, jovens nacionais que no labor desta Faculdade frutificaram, como Hélio Lourenço de Oliveira, Ruy Ferreira-Santos, Jacob Renato Woiski, Paulo Pupo, Domingos Andreucci, Almiro P. de Azeredo. O diretor que o substituiu também preocupou-se com o enriquecimento do elemento humano, a vinda de Warwick Kerr para dirigir o Departamento de Genética - 1964 - é exemplo. A estruturação da Biblioteca da Faculdade foi também ação do primeiro diretor com respaldo de todas as subsequentes administrações, haja vista, para a riqueza de seu acervo. 

Vestibular e primeiras aulas ocorreram em abril e maio de 1952, em meio a dificuldades, tendo na Faculdade de Odontologia e Farmácia e na Santa Casa de Misericórdia suportes físicos às aulas teóricas e práticas. Posteriormente decidiu-se que a Faculdade se instalaria nos prédios de Escola Prática de Agricultura. Em meio a resistência de alguns segmentos sociais da cidade, efetivou-se a idéia, contribuindo estas instalações para a afirmação da nova escola. 

O Hospital das Clínicas, indispensável ao bom ensino médico, teve na Fundação Sinhá Junqueira, a partir de 1956, por cessão de direito sua melhor estruturação, enquanto o de Monte Alegre, teve construção lenta pelas dificuldades financeiras, somente inaugurado 22 anos depois. Hoje ambos prestam inestimáveis serviços à comunidade como um todo, pois atendem não só populações carentes, como também, segmentos socialmente diferenciados - via Clínica Civil. Pode-se dizer que os professores vivenciam o princípio do "tempo integral geográfico". 

No transcorrer dos dez primeiros anos a F.M.R.P. tornou-se instituição adulta, fidedigna aos seus pressupostos básicos de ensino, investigação científica e prestação de serviços. FAO, Fundação Rockefeller e instituições nacionais financiaram equipamentos para laboratórios, montagens de novos serviços e aperfeiçoamento de professores no exterior que com suas pesquisas de campo e laboratoriais, produziam ciência, participavam de congressos, simpósios, defesas de teses, publicações em revistas nacionais e estrangeiras enriquecendo a vida acadêmica da nova escola. 

O internato obrigatório às Escolas Médicas do país, a partir do ano de 1970, já integrava o currículo da FMRP desde sua primeira turma, sempre trabalhado na relação professor-aluno como fundamental à postura ética, conhecimento e entendimento integral da doença, na visão bio-psico-social. 

No que tange às residências médicas, assim como o Departamento de Cirurgia do Hospital John Hopkins, Baltimore (1889), foi o iniciador do sistema nos Estados Unidos, à Faculdade de Medicina de São Paulo (1945) credita-se as primeiras experiências de residência como meta de aperfeiçoamento. Foram elas previstas no processo de criação da FMRP, tidas e havidas como o melhor caminho à adequação da competência profissional médica. Institucionalizadas, em nível de Brasil, em 1977, são as diversas residências médicas de Ribeirão Preto disputadas pelos alunos egressos da "Casa Zeferino" e por alunos de outras origens. 

Os cursos de pós-graduação "stricto sensu" institucionalizados nos anos setenta por vontade do Estado, já eram aqui ministrados, pelo agora chamado "Sistema Antigo" com registro de 149 doutorados. Implantou-se a nova política educacional entre os anos 70 e 71. Foi possível funcionar seis cursos em áreas básicas e sete em áreas aplicadas; de maneira gradativa, mais cinco áreas foram instituídas, somando-se 18 áreas que integram, até os dias de hoje, o Programa de Pós-Graduação da FMRP, "centro formador e multiplicador de docentes e pesquisadores". 

Ao se comemorar os quarenta anos de funcionamento (1992) esta Faculdade sofreu um processo de análise e avaliação nos aspectos administrativos e acadêmicos culminando na elaboração de um Plano Diretor que implantado, encontra-se hoje em fase de observações e estudos para futuras reavaliações. O ponto de partida para esta análise conjuntural fundamentou-se nos objetivos de um Curso de Medicina fixados pela Congregação em março de 1987. Do conhecimento, da análise, da síntese e da avaliação do poder institucional traçou-se as diretrizes operacionais, ou seja as metas a serem perseguidas. 

Observe-se que nos últimos anos ocorreu uma sequência de ações, como reforma curricular e administrativa, criação de suporte psico- pedagógico, e Assessoria Cultural, ampliações do espaço físico, já conquistadas e outras em andamento e ou planejadas, modernização dos laboratórios, implantação de núcleos de tecnologia educacional e de sistema de computação pelo qual se intercomunicam alunos, professores, administração e o mundo como um todo, contratação de pesquisadores nacionais ou estrangeiros de comprovado valor com atuação nas áreas básicas e clínicas, e sobretudo apoio contínuo as solicitações dos professores da Casa a fim de que possam reciclar-se de forma constante, principalmente no exterior. 

Destarte, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto no transcorrer de seu tempo, procura contribuir de forma decisiva para a afirmação de um Brasil menos doente, menos inculto. 

►Texto da Profª. Drª. Maria Augusta de Sant’Ana Moraes originalmente publicado no site http://www.fmrp.usp.br

 

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